Por muitos anos, Otoniel Saraiva caminhou pelos corredores do poder. Deputado estadual na Bahia entre 1995 e 1999, participou ativamente de comissões, propôs leis, lutou por sua região e ajudou a escrever páginas da política baiana. Mas, após o fim do mandato, a realidade bateu à porta: o esquecimento.
“O ex-deputado não vale nada.” A frase é forte, amarga — e dele mesmo. Foi essa constatação, feita com franqueza e dor, que levou Saraiva a fundar a Associação dos Ex-Deputados da Bahia (Assed-BA). Seu objetivo era claro: construir um elo de reconhecimento entre quem já serviu ao povo e uma sociedade que parece ter virado a página rápido demais.
Mas, ao iniciar essa jornada, descobriu algo ainda mais duro: o abandono era maior do que imaginava. Ex-parlamentares vivendo em situação de miséria, vendendo bugigangas em feiras, outros dependendo da ajuda de ex-colegas para pagar pequenas dívidas. “É desalentador. Às vezes, dá vontade de desistir”, confessa Saraiva.
Hoje, dos 690 deputados estaduais que passaram pela Assembleia nos últimos 40 anos, 390 ainda estão vivos. Os demais deixaram viúvas — cerca de 300 delas — que também enfrentam dificuldades e são assistidas pela associação. O brilho do mandato se apagou rápido, e no lugar ficou o silêncio.
Um político que não se calou
Nascido em Alagoinhas em 1951, Otoniel construiu sua trajetória com base em esforço e estudo. Economista e advogado, chegou à política após anos no setor privado. E, embora tenha mudado de partido ao longo da carreira, nunca mudou seu foco: lutar pelo desenvolvimento de sua região e por causas sociais.
Na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), presidiu comissões, liderou bancadas e apresentou propostas que impactaram positivamente a vida de muitos baianos. Foi responsável, por exemplo, por indicações para a criação de serviços essenciais em bairros esquecidos de Salvador e pela articulação que trouxe investimentos importantes para o interior, como a instalação da Cervejaria Schincariol em Alagoinhas.
Mas foi fora dos holofotes que ele demonstrou seu maior valor: não abandonou os companheiros de jornada. Quando muitos se calaram, Saraiva decidiu falar — e agir.
Memória, respeito e futuro
O que Otoniel Saraiva enfrenta e denuncia é mais do que um drama pessoal. É um alerta: a política brasileira, tão rápida em aplaudir e descartar, precisa encontrar maneiras de valorizar a memória de quem ajudou a construir o presente.
Não se trata de privilégios ou saudades de poder. Trata-se de respeito. E se hoje ex-deputados passam fome ou caem no esquecimento, talvez seja hora de repensar o modo como lidamos com o passado político.
Saraiva segue na luta. Não por votos, nem por cargos, mas por justiça. E por aqueles que, como ele, não aceitaram ser apenas uma página virada.
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