O que era para ser uma simples operação de rotina acabou se transformando em um dos episódios mais tensos do ano na capital baiana. A Polícia Civil e a Polícia Militar intensificaram, desde segunda-feira (14), uma verdadeira ocupação nos bairros da Engomadeira e Tancredo Neves, em Salvador, após o delegado Jean Fiúza ser baleado durante uma operação de inteligência.
O atentado reacendeu o alerta sobre o avanço do crime organizado na capital e colocou em evidência o domínio de facções armadas em comunidades vulneráveis.
Ataque direto a uma autoridade
Jean Fiúza, delegado da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR), participava de uma investigação sobre atividades da facção Comando Vermelho na região quando foi surpreendido a tiros durante uma festa paredão — evento usado frequentemente como fachada para a atuação criminosa.
O delegado foi atingido no braço, socorrido com vida e encontra-se fora de perigo. No mesmo ataque, uma mulher ficou ferida e um ambulante morreu após ser baleado, aumentando a tensão na comunidade.
Ocupação para retomada do território
Desde então, a região virou palco de uma operação de ocupação permanente, com forte presença de policiais militares, civis, agentes da COE (Companhia de Operações Especiais), da Guarda Municipal e da Transalvador.
Caminhões com tratores e guinchos foram mobilizados para desmontar barricadas erguidas por criminosos nas entradas dos bairros — que usavam sofás, fogões e até geladeiras para impedir o acesso de viaturas. A cena era de verdadeira fortaleza improvisada do tráfico.
“Não estamos falando apenas de um ataque, mas de uma tentativa clara de tomada territorial por parte de uma organização criminosa. A resposta precisa ser à altura”, afirmou um investigador que atua no caso, sob condição de anonimato.
Prisões e apreensões
Nos dias seguintes ao ataque, ao menos seis suspeitos foram presos, sendo dois deles apontados como diretamente envolvidos no atentado ao delegado. Outros foram capturados com armas, drogas e celulares ligados à comunicação da facção.
Um dos alvos da operação é o traficante “Galo Preto”, apontado como chefe do Comando Vermelho na região, e integrante do "Baralho do Crime" da SSP-BA. Ele estaria por trás da ordem que resultou no ataque e na execução de desafetos nas últimas semanas.
Tancredo Neves também vira foco
Além da Engomadeira, o bairro vizinho de Tancredo Neves passou a receber reforço policial após relatos de movimentação armada. Barreiras policiais foram montadas em avenidas principais e becos, com revistas em veículos e pedestres
Helicópteros do Graer (Grupamento Aéreo da PM) sobrevoaram a área durante a madrugada, e a circulação de transporte coletivo chegou a ser alterada temporariamente, embora o serviço tenha sido restabelecido com escolta policial.
Comunidade dividida entre medo e esperança
Para muitos moradores, a presença policial traz alívio, mas também temor. “É bom ver a polícia aqui, mas a gente sabe que quando eles saírem, o tráfico volta mais revoltado”, disse uma comerciante da Engomadeira, que preferiu não se identificar.
Associações de bairro e lideranças comunitárias pedem não apenas ocupação, mas investimentos em políticas sociais, geração de emprego e cultura, para quebrar o ciclo de recrutamento de jovens pelo crime.
Operação Dominus Areae
A ação foi batizada de “Operação Dominus Areae”, que significa “Domínio da Área” em latim. A estratégia é clara: restabelecer o controle do Estado em territórios antes ocupados pelo tráfico, prender lideranças criminosas e garantir segurança à população.
A Secretaria de Segurança Pública informou que as ações irão continuar "por tempo indeterminado" e fazem parte de uma série de ofensivas contra o avanço das facções em Salvador e RMS.
Conclusão
A tentativa de assassinato de um delegado em plena operação escancarou um problema que há muito tempo vem sendo denunciado: o crime organizado deixou de ser apenas sombra nas periferias e agora desafia o próprio Estado em campo aberto. A resposta das forças de segurança é forte, mas a ocupação só será vitoriosa se for seguida por ações estruturantes, que tirem das facções o seu principal combustível: o abandono social.
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