Os policiais militares Diego Santana Correa, conhecido como Soldado Correa, e Luan Ribeiro de Almeida Matos, o Soldado Matos, vêm promovendo e organizando rifas ilegais nas redes sociais desde 2023. Combinando seus perfis no Instagram, os dois reúnem mais de 1,7 milhão de seguidores. Nas publicações, prometem prêmios como dinheiro rápido, carros de luxo, motos e iPhones, atraindo milhares de participantes.
As rifas promovidas pelos soldados Correa e Matos não possuem autorização do Ministério da Fazenda, o que as torna ilegais. Segundo a Lei 5.768/71, apenas entidades filantrópicas e sem fins lucrativos podem realizar esse tipo de sorteio — desde que com autorização do governo federal e sem premiação em dinheiro. Em declaração ao portal Núcleo, o soldado Correa admitiu que suas ações não estão regularizadas.
A prática de sorteios ilegais por policiais militares da Bahia já foi alvo da Operação Falsas Promessas, deflagrada pela Polícia Civil em abril deste ano. Nove PMs foram presos, acusados de integrar um esquema milionário de rifas clandestinas e lavagem de dinheiro. A organização criminosa operava por meio de empresas de fachada e laranjas, com atuação em cidades como Salvador, Vera Cruz, São Felipe, Juazeiro e Nazaré.
Tanto Correa quanto Matos utilizam o Instagram como principal plataforma para divulgar os sorteios. Nos stories, direcionam os seguidores para sites específicos onde os sorteios são realizados.
No caso de Correa, as publicações levam ao site “Ação de Ouro”, registrado em seu próprio CPF, conforme consulta feita na Receita Federal. Já Matos promove a “Ação do Guerreiro”, cujo CNPJ está em nome de sua esposa, Daiane Ribeiro Santana. Ambos os sites apresentam estrutura semelhante, oferecendo prêmios como carros, dinheiro e eletrônicos mediante o cadastro e compra de números que custam a partir de R$ 0,01.
Nenhuma das páginas, tampouco os perfis no Instagram, informa dados básicos exigidos por lei, como o CNPJ de entidade beneficiada, os métodos de pagamento, ou a origem dos prêmios. Quando o prêmio é em dinheiro, os próprios policiais fazem o repasse como pessoas físicas, divulgando supostos comprovantes nas redes.
Além dos perfis principais, os dois mantêm contas reservas onde também divulgam os sorteios e publicam conteúdos relacionados à rotina policial, como vídeos com armas, fardamento e comentários sobre ocorrências. Em algumas postagens, aparecem entregando prêmios a ganhadores.
Ambos estão na ativa e, segundo o Portal da Transparência, recebem salário bruto de R$ 5.300.
Correa negou que esteja realizando rifas, alegando que os sorteios se tratam de uma forma de título de capitalização. Ele também admitiu que não buscou legalização, justificando que isso comprometeria seus ganhos.
“Legalizar é entregar 90% do lucro ao governo, e sou totalmente contra isso. Não sigo muito essas regras, não. Sigo mais a Bíblia e os Dez Mandamentos. A Constituição tem centenas de páginas e o país continua cheio de corrupção. Se as pessoas seguissem mais a Bíblia e menos os falsos moralistas, seria melhor", afirmou o PM.
Em resposta, a Polícia Militar da Bahia informou que adotará as medidas cabíveis após tomar conhecimento da atuação dos policiais na divulgação das rifas. Em nota oficial, a corporação afirmou que será instaurado procedimento administrativo para investigar possíveis infrações disciplinares.
“A conduta será objeto de apuração formal, por meio de sindicância ou procedimento sumário, com o objetivo de verificar transgressões à legislação vigente. A investigação buscará preservar a ética, a disciplina militar e a imagem institucional da PM. Durante o processo, será garantido o contraditório e a ampla defesa, conforme prevê a legislação”, informou a corporação.
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